quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sobre o jornalismo e a internet - entrevista de Dominique Wolton

Dominique Wolton, diretor da revista Hermès e diretor de investigação em ciências da comunicação do Centre National de la Recherche Scientifique (França), deu ontem uma pequena entrevista ao Público em que fala sobre o estado atual do jornalismo e, em particular, da influência que a internet tem tido sobre o mesmo.

Pode ler aqui a entrevista completa. Abaixo deixo excertos que achei interessantes, porque descrevem bem alguns dos problemas que vemos todos os dias no jornalismo desportivo em Portugal, mas que não são exclusivas do nosso país, nem desta área, claro.


A Internet é óptima para nos exprimirmos, mas expressão não é informação. Separar os dois é função do jornalista. Ele deve olhar para a Internet como um novo meio de expressão e ter consciência de que, enquanto canal de informação, exige um trabalho de verificação. A última coisa de que os jornalistas se podem esquecer é que a informação é algo de valioso e difícil, que deve ser feito por profissionais. (...) Ninguém antecipou que o aumento da velocidade e a pressão da concorrência implicavam riscos, e que a informação em directo, que julgávamos mais próxima da verdade, podia afinal errar muito, porque não há tempo para verificar. (...)
Também não se pensou que quanto mais informação existisse, tanto mais rumores teríamos, porque há muita gente que se está nas tintas para a informação verificada e prefere as teorias da conspiração
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Outra surpresa foi a constatação de que todos os canais de informação falam das mesmas coisas ao mesmo tempo e que concorrência não tem servido para alargar o campo da informação.
Uma coisa que me deixa tristíssimo é ver os jornalistas a passarem horas na Internet, a darem a volta ao computador em vez de darem a volta ao mundo, quando fariam muito melhor em sair e investigar. É verdade que sair do jornal três ou quatro dias é caro, fazer bom jornalismo é caro, e essa é uma questão política que teremos de enfrentar, porque a informação está a ser comida por uma ideologia técnica, e é preciso resgatá-la.



E é assim que aparecem casos como o de Guardiola na Luz ou o interesse de clubes ingleses em jogadores do nosso campeonato em que os jornais portugueses citam os ingleses e os ingleses citam os portugueses sem se conseguir perceber bem quem criou o boato.

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